Indiciamento de Braga Netto e Flávio Bolsonaro divide G7 e é uma das razões do adiamento do relatório da CPI

 

Renan Calheiros, Flávio Bolsonaro e Braga Netto (Foto: Eric Monteiro, Adriano Machado/Reuters e Sérgio Lima)

Dois personagens do governo Bolsonaro são responsáveis pela tensão na reta final da CPI da Pandemia, o que provocou o cancelamento da leitura do relatório do senador Renan Calheiros.

A leitura estava programada para a próxima terça-feira, mas foi adiada e não há data marcada para ocorrer. Um dos personagens é o senador Flávio Bolsonaro.

Renan Calheiros decidiu indiciar o primogênito de Jair Bolsonaro por advocacia administrativa. 

No dia 13 de outubro do ano passado, Flávio Bolsonaro levou o dono da Precisa, Francisco Maximiano, para uma reunião com o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, no escritório do banco público m Brasília.

A Precisa se tornaria três meses depois a intermediária da Barath Biotech, fabricante da vacina Covaxin, que o governo Bolsonaro se empenhou para comprar.

A versão oficial é que Maxiamiano pleiteava empréstimo do BNDES para investimento em outra empresa de sua propriedade, a Xis Internet Fibra.

Um mês depois, a Barath Biotech teve a sua primeira reunião oficial com o Ministério da Saúde para vender a vacina, que tinha preço 50% superior ao da Pfizer, que havia tido sua oferta reiteradamente ignorada pelo governo Bolsonaro.

Em janeiro, uma comissão de empresários foi a Nova Deli, na Índia, para reunião com representantes da Barath Biotech mediada pela Embaixada do Brasil.

Na comitiva, estava Maximiano, da Precisa (e da Xis Internet Fibra).

Um dia depois, Jair Bolsonaro enviou carta ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, para informar que a Covaxin havia sido uma das vacinas escolhidas pelo governo brasileiro.

Em março, o deputado federal Luís Miranda (Dem-DF) levou o irmão, funcionário do Ministério da Saúde, para uma reunião com Jair Bolsonaro no Palácio do Alvorada.

Miranda revelaria mais tarde que informou naquele dia a Bolsonaro que o irmão havia sido pressionado a aprovar a importação da vacina, apesar do imunizante não ter a aprovação da Anvisa e sua documentação ser precária.

Bolsonaro teria sugerido a Miranda que era um caso de corrupção, com envolvimento do deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder de seu governo na Câmara dos Deputados.

Apesar da declaração, não tomou nenhuma providência contra Barros. Nem sequer o afastou da liderança na Câmara.

Bolsonaro também não desmentiu Luís Miranda, que é de sua base na Câmara.

Flávio Bolsonaro chegou a comemorar a importação da Covaxin, com um post no Twitter no dia 27 de fevereiro deste ano.

O senador apagou o tuíte, mas um print circulou depois que o escândalo da Covaxin explodiu.

O crime em que Renan Calheiros quer indiciar Flávio está tipificado pelo artigo 321 do Código Penal: "Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena – detenção, de um a três meses, ou multa.”

Alguns senadores do G7, grupo majoritário da CPI, discordam de Renan Calheiros para poupar Flávio Bolsonaro. Uma das razões é o corporativismo do Senado, mas talvez haja outro motivo.

Alessandro Vieira, do Cidadania, ameaçou inclusive apresentar relatório em separado.

O outro personagem que provoca tensão na CPI é o general Braga Netto, que na condição de chefe da Casa Civil (hoje é ministro da Defesa) comandou o Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19.

O comitê foi responsável pela política negacionista de Jair Bolsonaro. “Não faz sentido indiciar o presidente e não indiciar quem executou essa política negacionista”, afirmou Renan Calheiros, em entrevista exclusiva à TV 247.

O presidente da CPI, Omar Aziz, é um dos que querem evitar o indiciamento de Braga Netto. 

A entrevista com Renan Calheiros, realizada neste sábado, 16 de outubro — portanto, antes da decisão de adiar a leitura do relatório — vai ao ar neste domingo, às 21 horas.

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(Joaquim Carvalho/Brasil 247)

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