PROFECIA E O SALÁRIO DO PASTOR

 

“A igreja não paga o salário do pastor, ela o compra”, foi o que me disse um amigo, pastor batista da periferia de Recife. Consideremos alguns fatos:
1. O diploma de teólogo não tem utilidade do lado de fora da igreja. Não se consegue com ele emprego em nenhum lugar.
2. A maior parte da classe pastoral vive no circunscrito mundo eclesiástico da sua igreja local e denominação. Fora desses ambientes, encontra dificuldade para encontrar emprego e reconhecimento no próprio universo das igrejas evangélicas.
3. O púlpito jamais será politicamente neutro. A pregação expositiva fará com que o pastor desagrade ambas as partes da tão propalada polarização ideológica.
4. A cultura denominacional muitos vezes é refratária às implicações práticas de passagens inteiras das Escrituras. Já aconteceu na história do cristianismo coisas do tipo: “Se você pregar contra o racismo, o regime da escravidão, a exploração da mão de obra da classe trabalhadora, terá que se retirar da igreja”.
5. Um acordo tácito costuma ser estabelecido entre a igreja e o seu pastor: mantemos o seu cargo desde que você não leve ao púlpito e às redes sociais temas que geram desconforto na igreja.
6. A influência dos membros da igreja que fazem parte da elite econômica do país pode exercer papel significativo na escolha do conteúdo da pregação. Não poucos ameaçam sair da igreja ou deixar de fazer sua contribuição caso a pregação contrarie seus interesses e ideologia.
7. Assumir determinadas bandeiras éticas, muitas vezes inegociáveis para a fé cristã, pode levar o pastor a não ter seus livros vendidos, deixar de ser convidado para participar de congressos de teologia e perceber o número de seguidores nas redes sociais despencar.
8. Há pastores que dependem de verbas do exterior, provenientes de instituições cooptadas ideologicamente, que têm agenda político-cultural para o país. Denunciar a iniquidade do que elas defendem pode representar o fim do suporte financeiro que recebem.
Vejo uma mordaça no ministério de muitos pregadores, que se silenciam por temerem não encontrar meios de manter a si mesmos e à sua família. Mais do que isso. Por recearem perder espaço, ser sacados do palco, virar párias.
Não poucos, em razão da sua dependência financeira da igreja, não enxergam aquilo que se lhes tornou conveniente não enxergar. Acabam se tornando ardorosos defensores do que serve de plataforma para a aquisição de fama e poder.
Fico emocionado ao pensar nos que na fé e pela fé resistem. Amigos que, no espírito dos profetas, fazem suas as palavras de Jeremias:
"Tu me persuadiste, SENHOR,
e eu fui persuadido.
Foste mais forte do que eu
e prevaleceste.
Sou motivo de riso o dia inteiro;
todos zombam de mim.
Porque, sempre que falo,
tenho de gritar e clamar:
“Violência e destruição!”
Por causa da palavra do SENHOR,
sou objeto de deboche
e de zombaria o tempo todo.
Quando pensei:
“Não me lembrarei dele
e não falarei mais em seu nome”,
então isso se tornou
em meu coração como um fogo,
encerrado nos meus ossos…
Todos os meus amigos íntimos
esperam que eu tropece
e dizem: “Talvez ele se deixe
persuadir;
então nós o venceremos
e dele nos vingaremos…

Mas o SENHOR está comigo
como um poderoso guerreiro…”. Jr 20:7-11.


Por: Antônio Carlos Costa


ISSO TAMBÉM SE APLICA AOS NOSSOS PARÓCOS, À IGREJA CATÓLICA?

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